Depois de ter lido o texto de opinião do João Diniz Sanches acerca da "qualidade gráfica dos videojogos" devo confessar que a minha primeira reacção foi de surpresa, sendo seguida de concordância e depois de evidência. Mas concordei a início e agora creio ter chegado à conclusão que, das duas uma, ou ele simplesmente ESTÁ ERRADO, ou então poderá ser facilmente mal-interpretado, como sucedeu comigo (mea-culpa, mea-culpa...). Avredito e até compreendo que ele tenha ficado deslumbrado face à qualidade gráfica, é essa a reacção humana face ao sublime, e é também face ao sublime que o ser-humano é impelido para fora do corpo, leia-se, realidade alternativa - virtual(?)... pois bem, ele assim explica que a qualidade gráfica do Gears of War (jogo em questão) ajuda DECISIVAMENTE a criar a ambiência necessária para essa "viagem mental", e dessa forma entende-se a sua posição sobre uma suposta "revolução nos videojogos". Eu posso desde já dizer que não joguei o jogo (o que me coloca em desvantagem
crítica), mas também posso dizer que o que faltou na sua análise foi definir JOGO DE VÍDEO - e aí está a questão. Um jogo de vídeo é necessariamente uma viagem?, é necessariamente um universo alternativo?, é necessariamente um mundo virtual (realidade virtual)? Penso que jogos como o Tetris provam que NÂO, contudo filmes como o eXistenZ do Cronemberg fazem-me pensar que só os jogos de vídeo realmente fortes, realmente passíveis de criar MUNDOS podem fazer história e mudar a consciencia do mundo. Mas também aí me parece que João Diniz Sanches se exaltou, uma vez que o mundo não é apenas VISUAL, há o SOM, há o CHEIRO, há o SABOR, há o TACTO e, acima de tudo, HÁ A SENSAÇÃO. Para mim, o objectivo de um jogo verdadeiramente VIRTUAL, é a sensação de realidade - os cegos existem e a realidade não é só visual, experimente andar na rua de olhos fechados e diga que não é uma das experiências mais fabulosas que existe! Os jogos de video são muito mais, tal como o cinema, a literatura e as artes, são um não-nada (A Origem da Arte, Heidegger) que remete para a origem prima do artista e reflecte a natureza do ser humano, mostrando o carácter sublime do cosmos! Dêem-me experiências!, visuais, tácteis, auditivas, sensíveis!, dêem-me estórias, dêem-me ideias!
Lembro-me de uma "conversa" que tive com uma personagem de KOTOR e lembro-me de ter pensado que todo aquele grafismo antiquado nada vinha abalar o profundo ardor no peito que senti, aquela personagem era viva, era mal-desenhada, mas era viva e eu sabia que estava ali, naquele momento (veja-se também o Deus Ex) - premonição de Cronemberg.
Quero agradecer a sagacidade do João Diniz Sanches que me fez pensar nisto tudo
