Maedhros Escreveu:A tua retórica Morbus tem um problema. Se afirmas, que tudo o que é feito com "livre expressão artística" é arte, e por contradição tudo o resto não é, estás a incorrer num paradoxo. Porquê?
Porque nada é feito com livre expressão artística. E muito menos os designs de carros e cadeiras, a arquitectura, a arte sacra, etc. Nestes casos, tu separas duas naturezas intrínsecas dos objectos, tentando separar o que é arte e o que não é. E eu discordo dessa separação, simplesmente porque ela é impossível, mesmo num plano conceptual.
Queres tu dizer que é tanto arte um DVD como o filme que lá está dentro...
Maedhros Escreveu:Um design de um carro ou de uma cadeira, tem sempre um aspecto funcional (a aerodinâmica do carro ou a estabilidade do assento na cadeira), e seguindo a tua lógica, não é feito com total liberdade artística. A arte sacra, tão malfadada por artistas como Da Vinci, nunca pode ser "livre expressão artística", porque simplesmente tem um objectivo: o de divulgar a fé (o que limita muito, a expressão do autor, e a liberdade que tem para abordar os temas religiosos).
E ainda para mais se pensares que o conceito de arte como a conhecemos hoje só começou no século XVIII, salvo erro. Toda a arte antiga, desde a arte rupestre até à mais recente como os tectos da capela sestina não foi feita para ser arte. É-lo, mas não é por ter sido feita para a ser. Digo eu... Mas, se reparares bem, não são só os indivíduos que têem o conceito de arte que são capazes de a fazer. Mesmo crianças pequenas são capazes de fazer arte, mesmo nem sequer entendendo o que a palavra significa. Digo eu...
Maedhros Escreveu:A arquitectura, tem um lado profundamente funcional, que delimita a capacidade criativa do arquitecto, que não se pode limitar a criar uma escultura desproporcional. Um arquitecto, tem de criar um edifício capaz de receber pessoas, de satisfazer as necessidades logísticas de quem lá tem funções (seja um estádio, uma sala de espectáculos, ou mesmo um escritório), de ser um lugar onde as pessoas possam conviver,
Sim, mas queres dizer com isso que a arquitectura não é arte?
Maedhros Escreveu:e claro, um edifício que não caia ao fim de poucos anos.
Isso já cabe só ao engenheiro.
Maedhros Escreveu:Mesmo num filme, numa música, num quadro, (...) acabam por existir sempre, mesmo na arte da criação, associados aspectos que em nada envolvem a "livre expressão artística", desde problemas logísticos, a questões orçamentais, a necessidades de lançar a obra comercialmente (porque até os "artistas" têm de comer e fazer dinheiro)... E tudo isso faz parte da obra de arte e é definidor da mesma. A sua matriz passa sempre por mil e uma facetas, que nem sempre envolvem uma "livre expressão artística".
Acho que foi isso que eu disse

"Mesmo que associada a outras necessidades"...
Maedhros Escreveu:E não podes simplesmente dissociar essa matriz! Como se podesses chegar ao novo filme de Spielberg, e afirmar que não foi feito com arte, porque foi feito para render no box-office. O mesmo para os Metallica, e o seu último album. Ou o Shadow of the Colossus, e as suas capacidades técnicas. Quem sabe, até que ponto não foram "influenciadas" pela máquina de produção da Sony?
Se só fosse arte aquilo que é feito sem outros interesses não conheciamos quase nada. Mas eu não disse isso. Um filme, por exemplo, pode ser arte, mas pode (e tem, com certeza) momentos que, só por si, não são arte nem o podiam ser, por não terem originalidade e assim. Um filme (e outra coisa qualquer) analisa-se no seu todo e esse sim, porque é fruto da originalidade do artista, mesmo que provenha de outros interesses. Aliás, grande parte da arte presente no cimena é a representação que, só por si, não está directamente associada com interesses...
Maedhros Escreveu:A matriz da arte, no mundo real, passa em muito, pela necessidade económica de criar um sucesso, e não se pode dissociar essa faceta da veia de "livre expressão artística", do exprimir da natureza racional e sentimetal do(s) artista(s). É como separar uma cara da coroa.
A livre expressão artística é sempre limitada, e, portanto, muitas das vezes encontra-se presente em apenas algumas partes da obra. Por exemplo, é muito comum que os quadros estejam em telas retangulares/quadradas e isso em si não é arte. Mas se um quadro já estiver (com pes e cabeça) numa tela toda maluca já é arte, nesse aspecto (tela)
Maedhros Escreveu:Existem como um todo.
Sim, claro.
Maedhros Escreveu:Um carro não é a soma das partes, e as obras de arte também não.
Aí é que já não concordo contigo totalmente. Não são a soma de todas as partes, mas são a soma delas mais as suas relações. Tu existem como um todo e sem uma das tuas partes passavas a ser diferentes, mas isso não impede que sejas composto por várias partes e que tu sejas sempre a soma delas mais as suas relações. O que não pode acontecer é a decomposição do todo para depois analisar as várias partes como se estivessem dissociadas umas das outras...
Maedhros Escreveu:Como saber quais as partes que foram mais "influenciadas" pela necesssidade económica, ou por questões logísticas, ou quais as que foram feitas como um rasgo de pura "livre expressão artística"? Haverá resposta a estas questões?
Em certos casos não há, mas essa não é uma questão premente em meu entender. Mas há casos em que a resposta é nítida. Tomo o exemplo de um carro. Um designer, com certeza, que está limitado pela aerodinâmica e pela própria morfologia característica de um carro. Esse aspecto é nitidamente condicionado. No entanto, na maioria das vezes, se se entender do assunto, consegue-se distinguir com relativa facilidade as partes de "livre expressão" das partes "influênciadas"
Maedhros Escreveu:Como dissociar planos tão intrinsecamente ligados?
Foi o que eu disse. Não se pode dissociar, mas podesse analisar por partes.
Maedhros Escreveu:Eu percebi onde querias chegar, mas não acho que seja uma distinção válida, porque numa análise cuidada, a tua distinção incorre num paradoxo. Definir arte é muito complexo (acho que isso já ficou bem patente aqui inúmeras vezes), mas não é impossível.
Continuo a achar que a minha definição é correcta...
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