Muito bem. A vosso pedido vou então escrever mais umas impressões do Killer 7, já que sobre ele também escrevi noutro fórum.
Penso que a nota introdutória tem mesmo de ser sobre a diferença deste jogo. Quebra praticamente tudo o que é esquema de jogo até hoje montado, à excepção da estrutura dos puzzles, de uma progressão por ora linear, bem como algum backtracking (menor) similar ao Metroid.
O primeiro aspecto é mesmo o visual que esbarra num cell shade muito vincado com apelo a tons fortes e díspares. Assim é possível avançar num cenário com tecto cor de rosa e chão branco com paredes pretas. Tem, digamos, semelhanças com os negativos das fotografias. Mas isto é logo assim desde os primeiros quadros de opção, sempre com aspectos surrealistas e incomuns.
No plano jogável, a máxima para quem quiser apostar neste jogo é estar mentalmente preparado para o receber, seguido de "habituem-se!" aos novos controlos. A adaptação é fácil, mas o choque advém da sua organização. Assim, a personagem que controlamos move-se num único sentido, bastando para tal pressionar o botão A. Para inverter o sentido da marcha basta pressionar B. Na prática a personagem move-se sobre um mono-carril. Chegado a um entroncamento dá-se uso ao analógico para escolher a opção desejada. A personagem prossegue o seu caminho enquanto a camara, na terceira pessoa, se situa num plano inferior, ao nível dos pés.
Sinceramente não compreendo algumas críticas que alguns sites internacionais têm vindo a pontar ao sistema de controlo, apelidando-o de arcaico. Não sei onde está o problema e pelas horas de jogo que tenho nunca precisei de explorar cenários livremente. Penso que a progressão pelos cenários é inédita e deve ser entendida pelas circunstâncias de jogo.
Outro aspecto mais terra-a-terra é o confronto com os inimigos. Através do gatilho direito abre-se a visão na primeira pessoa com a arma da personagem (sete ao todo) em riste, preparada para disparo. Havendo uma gargalhada, isso significa a presença de um Heaven Smile pelas redondezas, sendo por isso obrigatório fazer um scan a toda a àrea envolvente para os descobrir. Encontrado o boneco é hora de tiro ao alvo. Se com um único tiro derrubarmos o heaven smile, no ponto crónico, há maior obtenção de sangue indispensável para desbloquear novas habilidades para cada uma das sete personagens.
Aspecto muito bem concretizado no jogo é a relação entre as sete personagens. Inicialmente o jogador controla Garcian Smith "cleaner", um preto, com o seu fatinho branco, sapato branco, camisa preta, gravata amarela, mala na mão esquerda, voz fundo de garrafa, é quem faz a ponte para Harman Smith, o velho criador da organização anti-terrorista Killer seven. O Garcian não é indicado para combates já que dispõe de um simples silenciador, muito fraco para eliminar os inimigos. A sua função primordial é recuperar a cabeça de um dos elementos da organização que tenha sido morto por uma explosão provocada pelos heaven smile (estes são os novos bombistas Kamikaze que mesmo depois de mortos soltam gargalhadas, afinal "laughter is the countdown of the devastation"). É uma forma curiosa de continuar o jogo, hão-de-ver, mas se ele morrer na explosão, o jogo acaba ali.
A cada altura da acção o jogador pode mudar de assassino até por forma a concluir um puzzle com recurso a habilidades específicas. Pessoalmente acho as personagens muito bem conseguidas. Não falam muito, mas agem de forma estrondosa e díspare, sempre com animações específicas. Continuo a achar um colosso o reload das duas launch-granades do Mask de Smith. Um bacano realmente imponente.
Nota bastante positiva vai para a música que na minha opinião é excelente. Sempre adaptada aos cenários em questão, há de tudo, desde sonoridades próximas dos filmes Matrix, passando por uma variedade de acordes incríveis.
A introdução de sequências em animé, com um aspecto clássico, dá um toque de requinte e bom gosto à narrativa que, pelo que já conheci, faz referência ao terrorismo, às relações de influência e internacionais, ao sexo, isto é; temas fortes.
No geral convém frisar que o jogo está repleto de quadros absolutamente surreais, com personagens fora desta galáxia. Tem piada falar com o Travis já que em cada nova conversa há novas inscrições na t-shirt que ele veste. É ainda importante falar com ele e com os outros (Mizrhai, a rapariga da cabeça cortada) para descobrir dicas e aspectos da narrativa.
Enfim, estou a adorar o jogo e penso que depois de RE4, a Capcom voltou ao prime-time, ainda que pela positiva ou negativa pois muitos não se coibem de machadar na irreverência dos controlos. Penso que o problema do jogo, até agora, é mesmo a existência de alguns loadings (ainda que de duração igual a dois segundos) para avançar nas partes de um mesmo cenário. Se a isso juntarmos o backtracking temos algum cansaço. Mas quem gosta de Metroid, isto não é nada.
Numa altura em que se fala da falta de novos conceitos, motivada pelo recurso a sequelas que brotam como cogumelos, este Killer 7 cai muito bem e , na minha opinião, merece a atenção dos jogadores.
Quem pensar investir nesta obra, convém estar preparado para desfrutar de momentos verdadeiramente surreais e muito bem atingidos.
Alguma pergunta sobre o jogo é só colocar.
Muahahahahahahahah