Prime Operative Escreveu:Morbus Escreveu:Falas do Japão mas não dizes mais nada...
Não disse mais nada porque suponho que não seja preciso mencionar aquela sua sociedade à "colmeia" onde tudo está centrado no trabalho e toda a gente é pressionada a dar tudo por tudo.
Não te esqueças que o Japão é o país com a maior taxa de suicídios.
O Japão não é nenhum paraíso, mas o motivo pelo qual a sua sociedade tem certas características, prende-se, como em tudo, com motivos históricos, eis alguns:
A sociedade "em colmeia" como tu lhe chamas, existe porque o Japão em termos sociais nunca saiu "efectivamente" do feudalismo. Apesar de durante a era Meiji o Japão tenha renegado os princípios económicos, sociais e políticos do feudalismo (como muitos rurouni-kenshin-fans saberão), a mentalidade japonesa e a cultura japonesa permaneceram muito fieis aos seus princípios básicos.
Isto traduz-se que, ainda hoje, os empresários japoneses, são uma espécie de Senhores Feudais, que simultanemante, oferecem trabalho aos seus trabalhadores (no qual eles têm de ser devotos e fiéis), e os "protegem" socialmente e financeiramente. Esta dicotomia, patente no seu esquema laboral, resulta numa simbiose, onde o patronato defende os seus trabalhadores, desde que estes mantenham a "honra" e os sirvam adequadamente.
O japão é dos países, no mundo, que tem a menor taxa de transito laboral, e o motivo é simples, uma vez um trabalhador ingrosse numa empresa, dificilmente sairá, pois passará a servi-la (com "honra") para o resto da vida. E daí vem essa "pressão" (como tu lhe chamas) para trabalhar. É a pressão de quem serve alguém, e que sabe que se quer continuar a a servir, tem ser submisso, pois, uma vez despedido, terá sido "desonrado", e dificilmente ingressará noutra empresa (ou mestre). Apesar de na(s) última(s) década(s) este aspecto da sociedade, ter-se vindo a alterar, esta política laboral continua muito imprimida no sector empresarial.
Finalmente, o motivo pelo qual o japão tem a maior taxa de suícidio no seu país, nada tem a haver com o trabalho (directamente). É resultado da conhecida cultura de "honra" milenar, que sempre encorajou ao suícidio, sempre que essa "honra" era posta em causa. Essa matriz suícida, foi transportada para este século camuflada sobre novas formas, a desonra perante o empresariado (que é o mestre do trabalhador), ou a depressão social provocada pelas suas condições de vida (quem já viu um apartamento japonês, percebe logo porquê da depressão).
É uma sociedade depressiva, e paradoxal, que continua a viver com preceitos do séc XVII, mantendo o código social da "honra" (que é a maior hipocrisisa que conheço), e que sempre os caracterizou, juntamente com um sistema económico capitalista, embora com alguns laivos de protecção social (garantido, em geral, pelas empresas).