Mensagem
por pedropaulo » terça 12 jul 2005, 16:12
Esta foi a resposta de Adolfo Luxúria Canibal (vocalista do grupo Mão
Morta)
à questão levantada sobre os preços serem mais caros em Portugal que no
resto da Europa.
"Mas a culpa é só nossa, dos portugueses!
Nós é que temos o culto do caro, resquicio de um velho complexo de
inferioridade e sintoma de povo novo-rico (sim, apesar de tudo, apesar
de
sermos os mais pobres da UE, (pelo menos antes do último alargamento), o
que
é certo é que grande parte - a maioria? -da nossa classe média tem
descendência campesina e há quarenta anos andava de pé descalço).
Nós é que achamos que se não for caro não tem qualidade,
envergonhamo-nos
de achar caro ou de pedir mais barato, que nos tomem por pelintras...
Nós é que temos o culto das marcas, tanto melhor quanto mais caras
surjam no
mercado, culto esse que no estrangeiro está circunscrito aos suburbanos
e
aos grupos étnicos deixados á margem, como forma de afirmação social.
Nós é que criamos a aura dos produtos caros como sinónimo de alto
standing,
como sinal de pertença a uma elite, como prestigio. E qualquer aprendiz
de
marketing percebe imediatamente isso, percebe que no mercado português
uma
marca ou um produto impõe-se pelo preço excessivo, ganha renome não pela
qualidade mas pelo preço, com a vantagem dessa estratégia ainda aumentar
a
margem de mais-valia para o fabricante ou vendedor.
A FNAC é um exemplo, com os discos à venda em Portugal bem mais caros
que
os mesmos discos à venda em França, na mesma FNAC (e com o mesmo IVA!).
Mas o exemplo mais chocante é o da IKEA: para se implantar em Portugal
aumentou os preços em relação aos praticados noutros paises onde a sua
estratégia de implantação é exactamente a de preços muito baratos para
um
design moderno) e, ainda tendo a concorrência da Habitat (que em
Portugal
já praticava preços mais altos do que em França, p.ex.), comprou a
Habitat
Portugal e baixou-lhe drasticamente s preços, questão de ficar com o
prestigio de marca cara, logo apetecivel, e mandar a Habitat para o
desprestigio de marca popularucha, ao alcance de qualquer bolsa!...
Mas já a Zara não teve que aumentar os preços, pouco depois de abrir as
primeiras lojas em Portugal, para se manter concorrencial e apetecível
ao
público? As máquinas fotográficas não são bem mais baratas nos Office
Centers do que nas FNACs e as pessoas não preferem comprar na FNAC, que
são
mais prestigiantes?
Em tempos, numa Francesice para a Antena 3, contei a história da turista
portuguesa que entrou numa loja parisiense a perguntar o preço de uma
camisola que estava na montra. A empregada disse-lhe o preço e
acrescentou,
numa honestidade a que não estamos habituados, que era cara, que tinha
mais
barato (pressupondo que para a mesma qualidade ou superior); não é que a
portuguesa levou aquilo como um insulto pessoal, como uma insinuação de
que
não teria posses para comprar a camisola, e desatou aos berros, dizendo
que
tinha dinheiro para comprar a camisola, as camisolas todas da loja, a
própria loja!...
É esta a nossa mentalidade, e enquanto continuar a ser continuaremos a
levar com os preços mais caros da Europa (para salários três e quatro
vezes
mais baixos)!"
Comentário pessoal: Acresce a justificação da descendência campesina
como
explicação do fenomeno referir que esta apetência do português para ser
imbecil remonta aos Descobrimentos. Pegue-se nos cronistas quinhentistas
e
facilmente se verifica a importância dada à apresentação pública de um
cavalo bem arreado, (o Porsche de então), em detrimento do acesso
regular a
bens alimentares! Exactamente: Fome em troca de um cavalo bem aparelhado
na
via pública!!!!
Ah grande Adolfo!!!