ICE Escreveu:Ningém está a dizer que deviamos deixar de jogar! Tens razão se por qualquer motivo fossemos privados desta forma de entretenimento sentiriamos muita falta. O problema a meu ver é quando o entretenimento é a razão da nossa existência. Ou para não ser tão drástico quando o entertenimento passa a ser mais do que isso.
De novo uma falsa questão. Tu tens muitas coisas "mais do que isso" e não te queixas! Por exemplo (outra vez) o trabalho. Uma pessoa vai para programador de jogos porque gosta, mas, mais tarde ou mais cedo, essa profissão vai-se tornar não tanto um hobbie mas mais um dever, e acontece o mesmo com os jogos. Ou então outro exemplo (que não acontece comigo porque eu não sou assim): tens um amigo ou vários e tal, mas depois eles começam-te a "fartar" pura e simplesmente (há explicações psicológicas para isso), ou por vê-los todos os dias ou por estarem sempre a pedir-te para ir aqui ou aculá, mas tu não os podes simplesmente mandar à fava. Uma coisa que era porque gostavas (querias tê-los como amigos) antes, passou a ser também uma obrigação, sort of (não os podes mandar à fava). Há coisas que eram divertimento e depois passam a ser obrigação, e não é só os jogos. Claro que não é assim muito saudável, mas que queres que te fassa? Cada um tem o direito de fazer o que quizer e de passar tempo no que quizer. Nunca ataquei um rato de biblioteca com um guarda-chuva, e já tive opurtunidade
São pessoas diferentes. E há muitos exemplos. Olhas para os marrões da escola, os músicos profissionais, os desportistas profissionais, alguns pintores, e muitas outras actividades que, a logo prazo se podem tornar uma obrigação.
ICE Escreveu:Sem duvida nas relações virtuais o que conta é a personalidade da pessoa, num entanto estas relações sofrem do problema de que tu não sabes até que ponto essa pessoa está a ser verdadeira, algo que não acontece quando estás frente a frente com a pessoa. A boca pode estar a mentir mas o corpo, esse nunca mente. Penso que não é exagero de todo, quando afirmo que tu nunca conheçes verdadeiramente uma pessoa enquanto não estiveres frente a frente com ela. É por isso que, tal como tu, nunca abdico de uma saída com os amigos por qualquer jogos. O jogo estrá sempre cá quando o quiser jogar, um amigo por uma atitude destas pode ser perdido para sempre.
Ahhahahah! A questão da praxe!
Olha, conheço-vos melhor (aos user mais frequentes) a vocês que à maior parte dos meus colegas de turma, e a eles vejo-os todos os dias. Não me interessa se um de vós diz que é louro e é moreno, não me interessa se um diz que é aviador e é marinheiro, essas questões são de segunda importância. Conhecer as ideias de alguém e as opiniões e a personalidade é muito mais importante que conhecer a aparência, o tom de voz e assim. Esta sociedade anda mas é muito agarrada à aparência, e por mais que digam o contrário, ela influencia sempre os nossos julgamentos sobre os outros. Além disso, se vires um gaijo todo mal arranjado e com a barba por fazer, sem um olho e com uma cicatriz enorme na boca, cheio de piolhos e sem uma perna vais julga-lo logo de uma maneira e vais ter uma predisposição para com ele, qualquer que sejam as suas ideias (nesta sociedade é inveitável). No entato, eu próprio podia ser assim (salvo seja!!) e tu nunca ias dizer isso. Vamos então a outro exemplo mais agradável. Quando vez uma menina muito bonita, de cabelo castanho aos caracois, olhos verdes, com uma bocinha linda e um sorisso de derreter um homem (e tal, não vou descrever o corpo
) tens logo uma atitude para com ela diferente, e se for preciso até nem te importas que só tenha
caca na cabeça. E, no entanto, eu próprio podia ser essa menina (
) e tu nunca ias dizer isso. São questões superficiais para se conhecer verdadeiramente uma pessoa.
Aliás, até acho que para se conhecer verdadeiramente uma pessoa é preciso vê-la a agir em fóruns ou locais como este, e mostrar a sua opinião abertamente em vários assuntos.
ICE Escreveu:Desculpa, mas discordo totalmente. Não concebo uma amizade por "correpondência", tu não consegues ser verdadeiramente amigo sem estar frente a frente com essa pessoa. Imagina o seguinte: estás a ter uma conversa interessantissima e do outro lado respondem-te mostrando interesse, mas na verdade estão a abrir a boca de sono e a pensar "será que nunca mais te calas" só não te dizem para não serem rudes. Pessoalmente isto nunca aconteceria. Para mim, o corpo fala mais que a voz ou que os dedos
Tu tens razão no que dizes, claro. Mas eu estava-me a referir (e referi-me agora antes) a "confraternizações" do género deste fórum, ou do tipo, em que uma pessoa fala longamente sobre vários assuntos. Não é no IRC que vais conhecer pessoas, obviamente, ainda para mais que a capacidade de fingir lá é muito maior que a capacidade de fingir aqui, pois aqui tens que escrever muito mais e mostrar mais do que te vai na alma.
ICE Escreveu:á alguém daqui teve uma das experiências mais comuns na escola, que é a correspondência inter-escolas. Conhecemos pessoas fantásticas sem duvida ao ponto de as considerar-mos, alguns pelo menos, amigos, mas amigos com "a" não amigos com "A" porque esses só estando pessoalmente. Falas em sociologia Morbus é esta mesma sociologia que te diz, que as relações interpessoas são tão mais fortes quanto maior for o contacto fisico, dai tu não conseguires estabelecer uma relação amorosa sem qualquer contacto fisico, paixoneta sim; Amor nunca.
Quem te disse que não é possivel?! Eu não consigo mas é teoricamente possivel. Como disse, depende da cultura em que uma pessoa está incerida. Por exemplo, os Buskimenes (são aquela tribo africana que as mulheres têem um cu muito grande
) só se consideram amigos de alguém se tiverem feito juntos uns rituais deles (é basicamente fumar umas ervas
). É uma maneira de eles fecharem a amizade. Tu só te concideras amigo de alguém se o tiveres visto, é a tua cultura. Além disso, é a própria sociologia a explicar que não há padrões culturais, e a arqueologia pré-histórica debate-se com graves questões de transposição cultural na intrepetação das comunidades pré-históricas. Temos sempre a tendência de considerar certas coisas como inerentes ao homem, quando na realidade não o são, são sim inerentes à nossa sociedade (e isso eu não nego, obviamente).
ICE Escreveu:Não precisas de te exaltar Morbus, até agora ninguém condenou esse acto. Mas condeno se algum dos presentes nesse "funeral" pudesse estar presente fisicamente e preferiu demonstrar o seu pesar virtualmente.
Ná, não estava exaltado. Foi só uma maneira de dizer aquilo que podia dizer muito bem sem os []'s, só que poderia insultar alguém. Não estou exaltado, é a minha opinião...
Mas condenas isso e condenas muito bem, mas não me parece que isso tenha acontecido. Fazer as duas omenagens seria melhor (mas são só omenagens, seria prefirvel te-las feito antes da morte, o que porvavelmente aconteceu).
ICE Escreveu:Esta é a diferença Morbus, pois essas pessoas não podem passar sem várias coisas. Assim como eu não sei passar sem perder umas horitas a jogar, estar com a namorada, estar com os amigos, sair à noite, fazer desporto, divertir-me todos os anos num festival qualquer, ler, ver filmes, passear, ir à praia no verão, brincar com os meus priminhos, ajudar amigos meus que estejam necessitados, etc., etc., etc. Agora imagina privar-me de tudo isto por causa de uma só coisa, seja ela jogos ou outra qualquer. Na minha mais sincera opinião, isso é tudo menos saudável.
Ok, queres tu dizer que só fazer uma coisa na vida não é saudável. Pois é isso que eu estou a dizer que não é verdade. São maneiras de viver. É possivel que seja penalizador para o próprio, mas não passa daí: é possivel. Olhas o monges, por exemplo, e muitos daqueles ligados a religiões. Só fazem aquilo e só se dedicam a isso, como os musulmanos só se dedicam a Deus e só precisam de Deus para sobreviver, mais nada. Alguns chamam-lhe fanatismo? Pois eu chamo-lhe coerência. São maneiras de viver, e, neste caso referido, até seja melhor que muitos dos vira-casacas ocidentais.
Por outro lado, depende tudo da nossa escala de análise (acredita que sim!). A minha mãe diz que eu passo tardes sempre a fazer a mesma coisa (estar no PC) e que isso não é saudável. Ora eu, nessas tardes, faço muita coisa: jogo, venho ao forum, desenvolvo o meu jogo que estou a conceptualizar, faço uns concept art no photoshop, ouço música, vejo uns filmes, etc... Mesmo que estivesse sempre a jogar WoW podia estar a fazer várias coisas: vou a esta cidade, vou matar monstros, vou fazer compras, vou falar com os on-line friends, vou passear. Depende da nossa escala de análise.
ICE Escreveu:Desculpa Morbus, mas não conheço nenhuma cultura que te diga que o contacto fisico não é essencial e que não é necessário este para se construir relações inter-pessoais sólidas.
O saber de um sociólogo não é olhar para o que aconteceu e acontece e fazer uma lista e dizer: "Isto é possivel, o que não estiver aqui não é.". Tem que se estabelecer padrões de criação de culturas e ver o que vai ser possivel no futuro e o que terá sido possivel no passado. A arqueologia, para entender as culturas pré-históricas, não se pode basear apenas no que sabe ter existido e dizer :"Ah! Mas não pode ter existido sociedades sem o sentido de indivíduo por que todas as sociedades que conhecemos o têem!". Não, tem que se entender quais são as variáveis e ver que mesmo os conceitos mais básicos da nossa sociedade podem não existir noutras. Vou-te dar alguns exemplos para que estableças pontos de comparação:
- O conceito de pessoa como ser único
- O conceito de natureza
- O conceito de cultura
- O conceito de passado/presente/futuro
- O conceito de vida/morte
- O conceito de realidade tal como a maioria o vê
- O conceito de tempo
- O conceito de família
- O conceito de sociedade
Todos estes conceitos e mais podem não existir ou ser diferentes noutras sociedades. Não te podes prender apenas ao que existe ou existiu, se não estás extraordinariamente limitado e "acorrentado", tens que ser visionário e ver o que pode acontecer. Eu tenho que ser visionário porque quero seguir arqueologia e tenho que ser visionário para ver o que poderia ter acontecido com base no registo arqueológico, sem me prender ao preconceitos limitadores da nossa soceidade. Acho que todos também deviamos ser visionários....