Antes de mais, o governo de Salazar era um governo por natureza conservador, e, portanto, levantava grandes entraves ao desenvolvimento, quer económico, quer tecnológico, quer cultural. Por outro lado, era um governo ditatorial sem grandes ligações a outros regimes (tinha algumas ligações com os Estados Unidos e com o regime franquista, mas eram muito fracas e quase nunca tiveram importância, a não ser mais para o final do regime), o que implicava que a nossa situação actual, caso o regime não tivesse caído, fosse de ainda mais isolamento que o que já tínhamos na altura. Possivelmente a guerra colonial teria provocado ainda mais prejuízos, quer económicos quer sociais, ao país (embora pudesse ter acabado de uma maneira muito melhor para as colónias), e, nesta altura, seríamos um país algo na ordem do que se passa no Irão. Uma país atrasado, parado no tempo (tal como Salazar sempre lutou por ser) controlado por um regime ditatorial, opressor e censor, onde a informação era fraca e as novidades raras. Além disso, continuaríamos a ser um país extremamente controlado pela religião e pelo obscurantismo, que era também um dos objectivos do regime. Em suma, para teres uma ideia, a grandessíssima maioria da população portuguesa seria, tendo em conta a nossa situação político-geográfica, pura e simplesmente mão de obra barata, e seria natural que as grandes multinacionais (talvez principalmente do sector textil, pelo menos até há poucos anos) viessem para cá e colocassem fábricas no nosso território. Isso não implicaria, no entanto, e não significaria com certeza, que o resultado dessa produção servisse para enriquecer o país. Pelo contrário, seria mais uma acha para a fogueira, e Portugal continuaria a ser um país subdesenvolvido. Poderias também esquecer tudo o que agora consideras importante, como informática ou educação superior, porque isso não era, nem nunca foi coisa que o regime do estado novo gostasse. E claro, nunca estaríamos na UE, porque o nacionalismo nunca o permitiria, como é óbvio (carbões, dilhos ta fuda!). E seriamos, como é lógico, um país extremamente centralizado, e Portugal, ao olhos do mundo, seria ainda mais só Lisboa do que é agora. Não é preciso procurar muito para entender o que o regime fazia, e fugindo às coisas mais comuns (como o controlo da população através de notícias enganosas e de música em apologia do regime), lembro que foi o regime do salazar que fechou a faculdade de letras da universidade do porto, com a razão fenomenal e excelente (e muito exemplificadora da ideologia do regime) de que o povo precisava mais de comida de que de cultura. Posso também lembrar que não somos hoje um dos países em que a Opel (salvo erro) mais investe por grande culpa do Salazar, que vedou o investimento da empresa no nosso país. Não é por acaso que, ainda hoje, a elite cultural do nosso país vai toda para o estrangeiro. É muito difícil em 30 anos, curar feridas tão profundas, e como as coisas estão, acho que ainda vai ser preciso morrer a nossa geração (nascida em 80) para que isto endireite.
No entanto, eu não sei o que me pediste para explicar. Querias que eu disse porque é que entendo a razão de essa ideologia existir nos dias de hoje?
NOTA: Isto é apenas a minha opinião e não costumo passa-la para palavras e muito menos para o "papel". Como disse, entendo bem que hajam outras opiniões vindas de outras pessoas, mas isso não me impede de fazer juizos sobre a aptidão mental delas.